Consultoria Industrial


Outras Imagens

 

 

Vou falar, sim, de como evitar a espionagem industrial, mas provavelmente (assim espero) por um prisma diferente daquele que você imagina.

Recentemente, um amigo sempre ligado às notícias da indústria automobilística me informou sobre um escândalo de espionagem industrialenvolvendo um dos grandes fabricantes mundiais de automóveis e as novas empresas chinesas desse mesmo mercado.

Segundo foi noticiado, após investir grandiosos US$ 4 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de motores automotivos elétricos e suas respectivas baterias, o fabricante europeu extirpou de seus quadros alguns dirigentes acusados de vazar informações sobre a pesquisa para a indústria automobilística chinesa.

Diante deste fato, poderíamos sugerir alguns procedimentos e políticas para reduzir o risco e os danos da espionagem industrial. Porém, é muito provável que no acirradíssimo mercado automobilístico todas as medidas já estejam sendo tomadas nesse sentido — inclusive, do ponto de vista da segurança da informação.

 

Novo olhar

 

Uma outra forma de enxergar a questão, à luz do Software Livre, pode sugerir outra abordagem, no entanto. Na realidade, nem é uma visão tão nova assim: Don Tapscott e Anthony Williams, em seu livro-e-agora-website (link na Amazonlink para a versão traduzida para português pela Ediouro), já falaram sobre o uso dos princípios do desenvolvimento colaborativo nas empresas da indústria chinesa de máquinas.

Uma tecnologia de base como os motores automotivos elétricos tem tudo para ser desenvolvida de forma colaborativa por todas as empresas líderes do setor. Da mesma forma que um sistema operacional — tecnologia de base para toda a indústria de TI — desenvolvido colaborativamente como o GNU/Linux impede por completo a "pirataria" e o vazamento de propriedade intelectual por quem o desenvolve, as "desenvolvedoras" de automóveis deveriam colaborar na pesquisa e desenvolvimento de motores elétricos e baterias!

A nova indústria chinesa, formada há muito menos tempo do que a europeia, já nasceu mais ágil e conseguiu adotar novas práticas como a colaboração. Não que isto já se tenha revertido em qualidade em seus produtos — conheço muito bem a má reputação dos produtos chineses em diversos mercados. Contudo, a colaboração certamente rende à "nova fábrica do mundo" uma agilidade sem igual.

 

Cenário

 

Imagine que todos os grandes fabricantes criassem uma fundação para gerenciar a pesquisa de motores elétricos. Cada um dos envolvidos — incluindo o grande fabricante prejudicado pela espionagem — poderia contribuir com metade do que contribui, atualmente, para sua própria pesquisa nessa área. Supondo que os US$ 4 bilhões investidos pelo fabricante espionado acima seja um ponto fora da curva e o investimento médio seja de US$ 1 bilhão, a contribuição média de cada fabricante para a fundação seria de US$ 500 milhões. Se tomarmos os 12 maiores grupos de fabricantes de automóveis segundo esta lista (porque o 13o. é chinês), os US$ 500 milhões de cada somariam US$ 6 bilhões para a fundação.

Neste cenário proposto, US$ 6 bilhões são mais do que cada jamais poderia investir nesse campo. E este resultado seria conseguido, lembro, com apenas metade dos investimentos de cada empresa. Ou seja, é menos investimento e mais produção.

Todas as empresas dessa fundação teriam, ao final das pesquisas, acesso total aos resultados, de forma que poderiam aplicar, elas próprias, as adaptações necessárias a seus próprios automóveis a fim de se diferenciar. No entanto, a pesquisa básica, aquela que requer o maior volume de investimento, já estaria feita e, como já sabemos, o resultado seria no mínimo próximo do melhor possível.

 

A velha concorrência

 

Claro que o modelo colaborativo funciona muito melhor para software. No mercado de software, cada pessoa normalmente é cliente de múltiplas empresas do setor, e é sempre possível criar novos modelos de negócio e de comercialização dos produtos. Quando surge uma nova empresa com um produto ótimo, geralmente não é preciso o cliente deixar de ser consumidor de outro fabricante para adotar esse novo produto. Isto é, nem sempre um novo fabricante de software "come" mercado dos demais. Nas palavras de Corinto Meffe "softwares são bens intangíveis". O resultado é que o mercado de software pode crescer como um todo, beneficiando todos os seus players, sem que nenhum deles tenha, obrigatoriamente, que sair perdendo.

Automóveis, por outro lado, são perfeitamente tangíveis. Quando se compra um automóvel de um fabricante, deixa-se de comprá-lo de todos os demais. Todos os fabricantes, portanto, concorrem em cada venda individual.

Além disso, o mercado de automóveis — principalmente o de carros de passeio — não parece dispor de tanto espaço para crescer quanto o de software, que é praticamente ilimitado.

No entanto, isto não inviabiliza o crescimento do mercado de automóveis como um todo. Se as pesquisas em veículos elétricos alcançarem tamanho sucesso que permita aos fabricantes reduzirem seus custos e, em consequência, os preços ao consumidor, então mais pessoas poderão comprar automóveis. Todos os fabricantes saem ganhando — certamente não tanto quanto ganhariam caso avançassem sozinhos, mas o volume investido também não teria sido tão grande.

Se os desenvolvimentos em veículos elétricos resultassem em novas possibilidades de infraestrutura para abastecimento, por exemplo, poderíamos ver a criação de um novo mercado de postos de abastecimento, possivelmente menores e mais seguros — lidar com líquidos inflamáveis é sempre um risco.

 

Carros e petróleo

 

A indústria automobilística anda de mãos dadas com a poderosa indústria do petróleo, é claro. Contudo, os laços estão se soltando um pouco desde que os fabricantes de automóveis iniciaram suas buscas por fontes alternativas de propulsão, com pesquisas em biocombustíveis — em especial o nosso bom, velho e renovável etanol — e em motores elétricos.

O impulso já foi dado nesse sentido, e dificilmente as montadoras voltarão atrás. Não deve ser esse o maior impedimento à colaboração entre os fabricantes de automóveis.

 

Conclusão

 

O software nos ensinou que colaborar faz bem para todos: fabricantes, pesquisadores, desenvolvedores e consumidores. No caso da pesquisa em motores elétricos, provavelmente o meio ambiente será mais um dos beneficiados, pois, como muitos já falaram (até eu!), o petróleo é valioso e versátil demais para ser desperdiçado em combustível, um uso facilmente substituível.

Até a riquíssima e concorridísima indústria farmacêutica já descobriu os méritos da colaboração na pesquisa de novas drogas (o link é apenas um de inúmeros). Como ganha-pão de todos os players dessa indústria, a descoberta de novas drogas ajuda todas a permanecerem ativas e, de forma geral, mantém a saúde da própria indústria como um todo.

Com desenvolvimento colaborativo de uma tecnologia básica como os motores elétricos, a indústria automobilística certamente teria muito a desfrutar — a começar por deixar de lado boa parte de seus gastos em proteções contra espionagem!

 

     

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